A experiência clinica revela que, mesmo diante da doença orgânica, a referencia exclusiva à anatomia, à fisiologia ou mesmo à genética não é suficiente para compreendermos o sofrimento de nossos pacientes. Para alcançarmos a essência deste sofrimento, é necessário que consideremos que, a partir do corpo real, anatómico, fisiológico, configurase um outro corpo, um corpo imaginário, que se constitui, a partir do desamparo primordial, através da relação com um outro ser humano. Segundo esse processo, a criança constitui sua subjetividade, tornando-se um ser desejante, social, da cultura. A dissociação entre corpo anatómico e fisiológico e o corpo imaginário instaura uma fissura através da qual se esvai a subjetividade, preparando o caminho para a experiência melancólica. Essa perspectiva revela que o adoecer comporta uma dimensão identificatória e intersubjetiva. A doença de um indivíduo repercute, obrigatoriamente, no conjunto familiar através da genealogização do sintoma e do remanejamento das representações transgeracionais. Desta forma, é importante considerarmos essas experiências para compreendermos que o risco genético real, revelado pela ciência, é permeado pela vivência de um risco imaginário que determina as representações individuais e sociais da doença, e mesmo, em alguns casos, as possibilidades de sua manifestação bem como seu curso
Este livro é um tributo aos encontros e à memória. Modelado pela escuta, pela escrita e pela psicanálise, evoca pessoas queridas que me provocaram, me tocaram e me constituíram. Os textos destacam a importância da dimensão coletiva, social e política da psicanálise e a relevância da alteridade para a constituição do sujeito e para a ética clínica e institucional. Neles, discuto os processos de subjetivação que articulam corpo e mente, o enquadre e a relação terapêutica, o processo educativo e a prática médica e a transmissão em psicanálise. Em tempos de acentuado esgarçamento das relações pessoais e sociais, é ainda mais fundamental lembrar que nada disso teria sido possível sem a experiência dos encontros. Este livro celebra essas experiências e minha gratidão a todos que delas participaram.
O mais dificil dos sentimentos e o sentimento do outro. O outro e ele e es tit. Ele e realmente o outro ou e a parte tua que nao queres ser, saber, ver ou aceitar? Tu es o outro para os outros, logo es igual a ele. Todos somos 'outros'. E no entanto o outro invade, ameafa. mastiga de boca aberta, irrita, erifa, machuca. Ate teu filho e o outro. E tu, pobre pretensioso, pensas que ele e teu..." 1
Este trabalho tem por objetivo iniciar a reflexão sobre a função da transferência como operadora incontornável da apreensão e da compreensão da doença, em seu sentido mais amplo, e da psicopatologia em particular. Mais que um “dispositivo” da técnica psicanalítica, a transferência se constitui como verdadeiro paradigma da experiência que revela a imbricação inevitável do sofrimento de dois seres em relação. É a elaboração desta experiência que permite a constituição do conhecimento psicopatológico. Destaca-se aqui como, muito antes da formulação deste conceito, a sensibilidade de Freud à sua experiência transferencial, com relação aos seus objetos de estudo e a suas relações pessoais e profissionais, constituiu-se como um vetor determinante de seu percurso da neurologia à psicanálise, uma dimensão pouco considerada na história da psicanálise bem como na do próprio conceito de transferência. A elaboração dessa experiência foi um operador fundamental que permitiu a Freud compreender e efetuar as teorizações e transformações que instrumentaram sua passagem da pesquisa neuro-fisiológica e da clínica médica clássica ao desenvolvimento da psicanálise, enquanto método terapêutico e corpo teórico.
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