Resumo Estudo crítico das determinantes míticas na caracterização das personagens e na composição da ação em Sortilégio II, drama de Abdias do Nascimento. O teatro de Abdias obedece a paradigmas de composição da cena que não se baseiam mais na organicidade sintagmática da fábula, mas, apresentando os complexos e paixões de Emanuel, busca uma organização descontínua e paradigmática, para dar conta da vida de uma única e dominante subjetividade em cena. Em Sortilégio II, essa configuração teatral pós-catástrofe é ideal para tecer os processos rememorativos de Emanuel, na tentativa de projetar no presente da cena o passado traumático do personagem, marcado pela violência social, pelos complexos raciais e pelas contraditórias relações eróticas com Ifigênia e Margarida. Na peça, além das definições estruturais da ação, o sagrado afro-brasileiro e a mitologia dos Orixás são importantes modulações culturais que interferem nas relações de poder entre os agentes e nos processos de subjetivação que acometem Emanuel. Uma rede social e simbólica que, sob a tutela de Exu e Ogum, concorre para a libertação e deificação do personagem. Por meio do reconhecimento da cultura negra, do pertencimento étnico-racial e do sacrifício mítico, Emanuel deixa o mundo racista dos homens para habitar o Orún, o plano divino dos Orixás.
Resumo: A partir, principalmente, de Walter Benjamin e Jean-Pierre Sarrazac, esse trabalho analisa a insurgência na dramaturgia de Plínio Marcos de um embrião narrativo que, fazendo uso da memória traumática dos personagens e da crítica do poder como violência (Gewallt), encontrará sua realização plena em Querô, uma reportagem maldita, romance e drama da década de 1970. Na adaptação teatral do romance, a forma biográfica da matéria rememorada, princípio constitutivo da ação dramática, impôs mudanças na fábula que, negando a estrutura sintagmática da ação, passou a assumir uma configuração pós-catástrofe da cena, na qual o passado de violências do personagem é agenciado no presente da enunciação por uma “dramaturgia do retorno” e por um processo descontínuo e disjuntivo das lembranças. Na comparação entre drama e romance, compreende-se como a memória da educação sentimental de Querô coloniza a ação teatral, caracterizando uma dramaturgia da intrassubjetividade em que o personagem, testemunha de si mesmo, narra a própria Paixão.Palavras-chave: crítica da violência; drama pós-catástrofe; Plínio Marcos.Abstract: Grounded mainly on Walter Benjamin and Jean-Pierre Sarrazac’s work, this article analyzes the insurgency in Plinio Marcos’s dramaturgy of a narrative embryo that, using the traumatic memory of characters and the critique of power as violence (Gewallt), will find its full materialization in Querô, a Damned Report (“Querô, Uma reportagem maldita”), romance and drama on the 1970s. In the theatrical adaptation of the novel, the biographical form of the remembered matter, constitutive principle of dramatic action, imposed changes in the fable that, denying the syntagmatic structure of the action, began to assume a post-catastrophe configuration of the scene in which the violent past of the character is settled in the present of the enunciation by a “dramaturgy of return” and by a discontinuous and disjunctive process of remembering. Comparing the drama and the novel, one understands how the memory of Querô’s sentimental education colonizes the theatrical action, characterizing a dramaturgy of intra-subjectivity in which the character, witness of himself, narrates his own Passion.Keywords: criticism of violence; post-catastrophe drama; Plinio Marcos.
Logo após a independência de Moçambique em 1975, uma das medidas adotadas pela FRELIMO foi o deslocamento e a disciplinarização em massa da população. Entre as estratégias tomadas estava a criação de campos de reeducação, para onde eram levados os moçambicanos classificados como improdutivos e indesejáveis pelo poder soberano. No romance Entre as memórias silenciadas, Ungulani Ba Ka Khosa representa a memória dos sujeitos deportados para os campos para serem ressocializados e transformados pela experiência prisional, pelo trabalho nas machambas e pelo pensamento anticolonial de fundamentação marxista-leninista no novo homem moçambicano. Nessa narrativa, os sujeitos ficcionais são despossuídos de seus direitos de cidadania e submetidos pelo poder/violência instaurador(a) da nova ordem socialista a processos de subjetivação/dessubjetivação com o objetivo não só de se tornarem corpos dóceis ao regime revolucionário, mas também de modo a impossibilitar a formação de memórias que testemunhassem a própria existência dos campos.
Resumo: Este artigo objetiva analisar a dramaturgia de Plínio Marcos a partir da subjetivação/formação de personagens na marginalidade, na violência social e no lúmpen. Parte-se dos conceitos de "teatro de relações destrutivas", de Raymond Williams, e de "formação sentimental do marginal", de Walter Benjamin, para entender como as estratégias dramáticas dos textos moldam certos personagens de Plínio Marcosprostitutas, cafetões, gays, malandros e criminosos violentos -como sujeitos violentados, representando-os em uma queda progressiva na violência do lúmpen, vítimas como são de um processo cruel de aniquilação social, moral e existencial. O estudo crítico revela sujeitos ficcionais que têm como base a marginalidade da zona portuária de Santos (SP), mas que, em momentos lírico-épicos dos dramas, narram suas tristes e traumáticas trajetórias de vida de maneira a justificar os atos violentos no presente da cena. Palavras-chave: violência; formação sentimental; Plínio Marcos. Abstract:This article aims to analyze the dramaturgy of Plínio Marcos, particularly the subjectivation/formation of his characters in social marginality, lumpen and violence. The theoretical basis of this analysis is Raymond Williams's notion "theatre of destructive relations" and Walter Benjamin's "sentimental formation of social marginality", used
Resumo O estudo parte da noção de “belo animal” para pensar os paradigmas compositivos do drama contemporâneo na esteira das reflexões de Jacques Rancière e Jean-Pierre Sarrazac. Nesse caminho crítico, a imagem anatômica da fábula teatral, ainda presente em teóricos modernos como Hegel e Peter Szondi, é deslocada para uma metáfora teratológica que propõe o mythos como reminiscência e testemunho, político e íntimo, do sujeito ficcional. A lógica sintagmática da ação, o drama-na-vida, é remontada em uma razão inorgânica e regressiva da sequência dos atos, consubstanciando um tratamento estético que, como Paixão e Processo, caracteriza o que denominamos de dramaturgia pós-catástrofe.
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