Um dado novo nas relações racializadas no Brasil nos últimos anos tem sido o das políticas de ação afirmativa para minorias étnicas. A política de cotas de acesso para negros e pardos nas universidades públicas tem gerado um intenso debate sobre questões de discriminação e de identidade racial que antes não pareciam pertinentes no país que possui a maior população negra vivendo fora da África. A fim de analisarmos a relação entre as percepções de justiça social e os posicionamentos de estudantes sobre as cotas, realizamos dois estudos em Aracaju envolvendo estudantes de dois cursinhos pré-vestibulares (um público e um privado) e estudantes de todos os cursos da Universidade Federal de Sergipe. Os resultados indicam forte rejeição às cotas, sobretudo na universidade. Pensamos que essa resistência pode indicar tanto uma recusa a uma transformação do modelo de justiça liberal, pautado no mérito individual, quanto uma resistência ao tipo de ação apenas midiática em que as cotas se estão transformando na sociedade brasileira.
A fim de entender como se manifestam e desenvolvem as atitudes perante as cotas, realizamos dois estudos, um antes da implantação desse sistema e outro depois. Participaram 334 estudantes dos cursos mais concorridos da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Os resultados indicaram atitudes muito contrárias às cotas, sobretudo às raciais. Depois da implantação, a oposição cresce para as cotas raciais e diminui para as sociais. Antes da implantação, os contrários afirmaram, sobretudo, que as cotas aumentavam o preconceito contra os negros; depois da implantação, a principal justificativa foi a de que elas discriminavam. Esses resultados são discutidos como indicadores das relações entre as ideologias do paternalismo e do senso de posição grupal no preconceito racial do Brasil.
Resumo Neste texto, argumentamos que as avaliações das cotas universitárias precisam incorporar o conceito de reconhecimento social. Se as ações afirmativas que beneficiam alunos de escolas públicas e não brancos nas universidades públicas se tornaram um fenômeno de grande visibilidade, ainda há muito o que se avançar na interpretação dos seus reais efeitos. Desse modo, propomos discutir as mudanças introduzidas por essas políticas no quotidiano da Universidade Federal de Sergipe, dando prioridade à autopercepção dos alunos cotistas e às interações por eles estabelecidas com outros alunos e com os professores. Para isso, utilizou-se uma metodologia que alia métodos qualitativos (grupos focais) com métodos quantitativos (survey). Os principais resultados da pesquisa apontam para o aumento da autoestima dos cotistas e, ao mesmo tempo, para a existência, por razões econômicas e de classe, de tensões entre eles e os alunos não cotistas e, principalmente, entre os professores dos cursos mais prestigiosos.
RESUMONesse texto analisamos como os processos de autoreconhecimento de comunidades remanescentes de quilombos são influenciados e, ao mesmo tempo, estão influenciando as lutas sociais agrárias. O trabalho de campo foi realizado junto a uma comunidade do sertão do estado de Sergipe, região de forte presença do MST e de outros movimentos sociais agrários. Após diversos anos de lutas pela posse da terra, inclusive com a criação de uma associação de agricultores, o grupo reivindica o estatuto de comunidade remanescente de quilombos no início dos anos 2000 junto à Fundação Palmares, dando início assim a um processo, ainda em curso, de demarcação do território comunal. Para além do que essa experiência tem de semelhante com diversos outros casos no país, temos aqui um excelente exemplo empírico de como as ressignificações identitárias das comunidades de remanescentes quilombolas alimentam-se de memórias sociais marcadas por experiências de organização coletiva para obter a posse da terra. Em termos teóricos, isso significa rediscutir a emergência enquanto atores coletivos das comunidades negras rurais como uma tentativa de conciliação entre demandas por reconhecimento identitário e demandas por redistribuição de recursos econômicos. O que aproxima essa discussão de interessante debate sobre os critérios de justiça nas sociedades atuais por algumas correntes da filosofia política contemporânea, sobretudo no que diz respeito à complementaridade das demandas por reconhecimento com as demandas por redistribuição.
Palavras-chave:Quilombos. Lutas Sociais no Campo. Reconhecimento.
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