O artigo descreve a formação do acervo de obras raras da Biblioteca de Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz. São obras que se estendem dos séculos XVII ao XX, distribuídas entre livros, coleções de periódicos, folhetos, teses, que contemplam valiosos trabalhos na área da história das ciências biológicas e da saúde. Descreve também a riqueza ornamental e decorativa do ambiente e do mobiliário preservados da biblioteca. Resgata a trajetória de 100 anos da Biblioteca de Manguinhos, intimamente associada à história da Fundação Oswaldo Cruz.

O estado do Rio de Janeiro possui acervo histórico sem similar nas demais unidades da federação. Nele estão registrados os principais momentos da psiquiatria, no Brasil e no plano internacional. Sua importância deve-se ao fato de a cidade haver sediado a Corte, no Império, e a capital da República, até a inauguração de Brasília. Teve, assim, o privilégio de ser o palco de fatos importantes na história da psiquiatria brasileira: a inauguração da primeira biblioteca, do primeiro asilo, da cadeira que inaugurou o ensino da disciplina em faculdade de medicina, por exemplo.Os investigadores que atuam nas áreas de psiquiatria, medicina social, antropologia, sociologia e filosofia vêm realizando, há algum tempo, a reconstituição das práticas e dos saberes da medicina mental. A publicação de grande número de artigos, livros, documentários, teses e dissertações dão prova do interesse por se conhecer as condições em que emergiram as práticas e discursos técnico-científicos que condicionam ou determinam os padrões de normalidade social vigentes em contextos históricos singulares. Nesta comunidade de interesses vem se engajar o projeto Memória da Psiquiatria no Brasil, fruto da cooperação entre o Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz e o Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública, representado pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental. A associação tem por finalidade mapear registros históricos relevantes para a compreensão das práticas, dos discursos e do imaginário que a psiquiatria engendrou.O projeto foi concebido ao se constatar a dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de se ter acesso às fontes que se acham dispersas por numerosas bibliotecas, arquivos públicos e particulares, ou senão totalmente desorganizadas, com risco de se perderem documentos insubstituíveis, de inquestionável importância.O projeto foi concebido com o intuito de se localizar e divulgar acervos, de se diagnosticar as condições em que se encontram e, na medida do possível, de se proporem ou implementarem procedimentos institucionais visando sua manutenção. Acreditamos que a divulgação de uma obra enfeixando os registros das fontes contribuirá para refazer a imagem que as próprias instituições têm de seus acervos, estimulandoas a tratarem-nos com maior zelo.Com poucas exceções, permanecem inacessíveis livros e periódicos, não estão identificados nem classificados acervos constituídos por prontuários, guias de internação, pareceres médicos e outros documentos que materializam experiências vividas no campo psiquiátrico.Entre as exceções figura a Biblioteca de Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, que possui 32 mil livros, teses e monografias relacionados a temas pertinentes ao campo biomédico e à saúde pública, incluindo 4.864 periódicos, dos quais 1.330 são correntes. Dispõe, ainda, de nove bases de dados bibliográficos e uma videoteca especializada, com cerca de quinhentos títulos. Sua coleção de obras raras alcança cerca de oito mil volumes.Apresentamos, a seguir, um subcon...