O campo dos estudos políticos e sociais não existe sem dissonância. As categorias que se empregam para interpretar a sociedade, a organização política e os fatos culturais, por serem histó-ricas e refletirem sempre um compromisso e uma escolha dos pesquisadores, são muitas vezes fluidas e fugazes.
Marilena Chauí e Marco Aurélio Nogueira, os expositores deste primeiro seminário em comemoração dos trinta anos do Cedec, discutem a origem da instituição à luz dos debates acadêmicos, políticos e culturais, ocorridos no Brasil e no exterior naquele período, sobre os futuros da democracia e do socialismo.
Resumo: Tomando como ponto de partida a constatação de que as democracias contemporâneas não podem funcionar sem parlamentos ativos, o artigo procura dialogar com a recorrente imagem de uma "crise de representação" no Estado contemporâneo, ou seja, com as dificuldades que esse instituto tem manifestado para se atualizar e permanecer cumprindo funções estratégicas nas complexas sociedades dos dias correntes. Para tanto, considera que os problemas da legitimidade nos sistemas políticos atuais estão relacionados com a questão da crise do Estado e da política impulsionada pelas novas formas adquiridas pela estrutura econômica e pela sociabilidade do capitalismo contemporâneo. Sua hipótese de fundo sugere que as transformações da sociedade capitalista -a hipermodernidade -puseram em xeque e ultrapassaram a representação, deixando-a defasada e com sérias dificuldades operacionais. Palavras-chave: representação, democracia, Estado, política, parlamento.A s democracias contemporâneas não podem funcionar sem um Poder Legislativo forte e atuante, mas os parlamentos, hoje em dia, estão tão perturbados pelas circunstâncias gerais da vida e por suas repercussões que passam a ter cada vez mais dificuldades operacionais, políticas e institucionais para cumprir suas funções. Tal paradoxo não respeita fronteiras, regimes político-administrativos ou jurisdições: é um fato universal, presente em diferentes sociedades, marca adquirida pelo Estado representativo no correr do tempo da modernidade. Ao mesmo tempo em que são uma condição básica para o bom funcionamento dos regimes democrá-ticos e, portanto, para o bom governo das sociedades, os parlamentos projetam-se no cenário como instituições relativamente engessadas, com poucas folgas para deliberar livre e produtivamente, para estabilizar de modo eficiente seu curso e para ajudar a compor o consentimento político e a legitimidade. Estão hoje, em boa medida, comprimidos entre o decisionismo governamental e as exigências incansáveis do mercado, de um lado, e as pressões, a fragmentação e o espontaneísmo social, de outro. Sem os parlamentos, as democracias não funcionam, mas os parlamentos não estão conseguindo operar à altura das necessidades da democracia.A situação remete à discussão recorrente sobre a emergência de uma "crise de representação" no Estado contemporâneo, ou seja, sobre as dificuldades que esse instituto tem manifestado para se atualizar e permanecer cumprindo funções estratégicas nas complexas sociedades dos dias correntes. Tem a ver, portanto, com o problema da legitimidade nos sistemas políticos atuais e, desse modo, com a questão da crise do
O artigo procura argumentar que a metáfora do "sofrimento organizacional" pode ser um recurso para que se volte a discutir o tema da gestão democrática e da convivência em organizações complexas. Uma rápida reconstrução da trajetória do organicismo nos estudos sociológicos e nas teorias organizacionais serve para que se possa distinguir entre um organicismo funcionalista e outro, dialético. A partir da fixação de alguns pontos para a compreensão das sociedades contemporâneas como sociedades informacionais, submetidas à inovação tecnológica contínua e à mudança acelerada, procura sustentar que o "sofrimento" aparece como reflexo de um quadro organizacional cortado pela dificuldade de compor diferenças e unificar.
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo morreu em janeiro de 1910, aos 60 anos de idade, quando ocupava o cargo de embaixador do Brasil em Washington.Havia retornado à diplomacia na virada do século, depois de ter ficado no ostracismo com a chegada da República em 1889, ele que era monarquista e havia acumulado muitas afinidades com a dinastia dos Bragança e o ritual mais pomposo do parlamentarismo monárquico. Vivera preocupado com o risco de que a República, sem quadros dirigentes bem preparados e tendo de se fixar num território gigantesco e mal povoado, derivasse para algum tipo de tirania ou entregasse o país às oligarquias. Tentou combatê-la, mas não havia ressonância monarquista confiável no país. O golpe de Deodoro da Fonseca o desnorteou. Não conseguiu compreender direito como a Monarquia, depois de ter libertado os escravos e sugerido à sociedade o início de uma era de progresso e justiça social, pudera cair de maduro, sem ninguém para defendê-la ou pranteá-la. ResumoO artigo explora o legado de Joaquim Nabuco e argumenta que sua atuação política, diplomática e intelectual tem algo a nos dizer sobre as questões e os dilemas com que nos debatemos hoje, em nossa República consolidada, antes de tudo sobre o modo como temos praticado (ou não) a reforma social e buscado construir uma sociedade que inclua todos os seus integrantes.PalaVRaS-chaVE: Joaquim Nabuco; reforma social; desigualdade;Brasil contemporâneo. AbstRActThe article explores the legacy of Joaquim Nabuco and suggests that his political, diplomatic and intellectual involvement with the questions of his time has something to say about the dilemmas we face today as a society, in our established Republic -above all, about the way Brazilian society has implemented (or has failed to implement) the needed social reforms and has sought to build a society that is able to integrate all of its citizens.
O conceito de governabilidade é examinado por um ângulo que enfatiza mais a "eficiência democrática" o que as condições técnicas do exercício do governo. Argumenta-se que nas condições atuais, de "desvalorização socialmente necessária da política", a governabilidade só pode ser alcançada em termos que são simultaneamente democráticos e progressivos.
Quando publicou, em março de 1979, na revista Encontros com a Civilização Brasileira, o ensaio "A democracia como valor universal", Carlos Nelson Coutinho já era um autor de destaque no Brasil. Marxista de base lukacsiana, havia escrito dois belos e importantes livros -Literatura e humanismo, de 1967, reunião de artigos de estética e crítica literária, e O estruturalismo e a miséria da razão, de 1972, em que submetia à crítica as ideias positivistas que se insinuavam entre a intelectualidade e no próprio campo marxista. Havia também elaborado vários artigos sobre cultura brasileira, fi losofi a e teoria política. Ainda jovem, era um autor prolífi co, que se singularizava pelo texto límpido, rigoroso e erudito.Mas foi com esse ensaio (Coutinho, 1980) sobre a democracia que Carlos Nelson ingressou de vez na cena política e intelectual brasileira, para dela nunca mais sair. Poucos textos tiveram tanta infl uência quanto aquele. Em plena ditadura militar no Brasil, o ensaio lançava uma luz na escuridão; era como uma golfada de ar num ambiente reprimido e sufocado, num momento em que as esquerdas (dentro e fora do país) ainda digeriam o
Vistas pelo ângulo das ideias e das formas de inserção reflexiva no mundo, as gerações nos ajudam a desvendar a vida.Agregações particulares formam-se sem cessar, dando ordem e sentido ao tecido social. Muitas deixam pegadas e sulcos no tempo. Outras, em número menor, chegam a exercer influência tão poderosa que impossibilitam qualquer explicação totalizante que não as leve em consideração. A geração de 1870 no Brasil, a do entre-guerras na Europa, a de 1968 no mundo, como sabemos, disseminaram estilos de viver e pensar, certos nódulos ideais, modos de se pôr na vida, fazer política, ir ao teatro ou ao cinema, organizar uma biblioteca, fixar uma maneira de amar e constituir família. Fizeram história.Com intensidade menor, sem potência para plasmar uma época, diferentes gerações de intelectuais respondem pelo trabalho de fornecer autoconsciência às sociedades, ajudá-las a se reconhecer como cultura, a se organizar como arte, filosofia e ciência, a se encontrar com a política, o Estado, a escola. Se conseguirmos individualizá-las e compreen-
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