Partindo de um estudo comparativo entre as visões teóricas de Charles Darwin e Herbert Spencer sobre os processos de mudança, este artigo procura entender como a gênese dessas ideias acerca da evolução influenciou o pensamento econômico de Alfred Marshall. Nesse sentido, num primeiro momento apresentamos como Darwin e Spencer construíram abordagens completamente distintas e inconciliáveis para entender os fenômenos de mudança em sistemas complexos. A seguir, buscaremos entender como Marshall absorveu essas elaborações vitorianas sobre a evolução dentro de seu construto teórico. Assim, focando nossa investigação nos Principles (1890) e trabalhando com as ideias ali contidas sobre mudança, progresso, equilíbrio e firma representativa, buscaremos assinalar que Marshall seguiu um código de ciência caracterizadamente spenceriano, em que sua abordagem, muitas vezes interpretada como "evolucionária", não apresenta contradição ou incompatibilidade com uma perspectiva fundada no essencialismo neoclássico.
A busca pela compreensão das conexões que ligam o campo socioeconômico aos fenômenos estudados pelas ciências da vida é matéria recorrente nas ideias econômicas. Porém, se de um lado o tema aparece com considerável frequência na história da literatura econômica, também não podemos deixar de perceber que essas ideias nunca foram objeto de tratamento sistemático. Nesse aspecto, desde o pioneirismo de Marshall (1890), com sua visão populacional acerca do conjunto das firmas, passando pela controversa ideia de seleção natural de Alchian (1950), até a concepção de genética organizacional de Nelson e Winter (1982), é possível reconhecer que ao longo do tempo, vários pensadores acabaram por encontrar na metáfora, ou analogia biológica, um atalho profícuo para uma compreensão substancialmente darwiniana acerca da dinâmica dos fenômenos populacionais econômicos.Esse movimento histórico e notadamente desconexo de associação dos fenômenos socioeconômicos às ideias originadas em Darwin aponta para uma pergunta fundamental: será que o pensamento evolucionário darwiniano pode ser utilizado pelas ciências econômicas apenas através da metáfora biológica? Ou será que existe algum denominador comum, mais profundo, que conecta o mundo biológico ao mundo socioeconômico?
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