A s divisões de classe social manifestam-se sociologicamente como estruturas e mecanismos que tanto geram conseqüências sociais sistemáticas na vida das pessoas e na dinâmica das instituições quanto condicionam, ainda que parcialmente, os efeitos produzidos por outras formas de divisão social. Este artigo analisa o impacto que a esfera da desigualdade de classe exerce sobre a desigualdade de raça no Brasil ao abordar as variações da distância (gap) racial de renda resultantes das diferenças de contextos de classe. Baseia-se, para tanto, nos resultados de uma investigação empírica que procurou validar uma nova classificação socioeconômica para o Brasil, classificação esta construída de uma perspectiva teórica neomarxista 21 * Na realização deste trabalho, beneficiei-me de uma bolsa de pós-doutorado concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -CAPES e da condição de honorary fellow do Departamento de Sociologia da Universidade de Wisconsin-Madison, aos quais registro o meu reconhecimento. Uma versão deste artigo foi apresentada no Seminário de Pesquisa do Programa de Sociologia Econômica daquele Departamento, em 27 de setembro de 2004, oportunidade em que obtive um feedback da parte dos seus integrantes, a quem agradeço nas pessoas dos professores Erik Olin Wright, Jonathan Zeitlin e Bob Freeland. Destaco, especialmente, a colaboração do prof. Erik Olin Wright, que tornou possível a minha presença em Madison, e os seus comentários detalhados ao meu paper, que destacam a relevância substantiva dos resultados alcançados e, ao mesmo tempo indicam problemas de pesquisa que merecem desenvolvimento adicional.
Resumo A teoria que considera as condições sociais como causas fundamentais da saúde, em articulação com as noções de classe social e território, é usada em reflexões acerca da trajetória e da distribuição dos efeitos da pandemia da Covid-19 no país. Parte-se de sínteses teóricas, abordagens e evidências de trabalhos do autor sobre desigualdade de saúde no Brasil. Entende-se que o ‘meio social’, de natureza relacional e estruturada, afeta a propagação e a distribuição da doença entre os grupos. As diferenças de classe em circunstâncias de trabalho, localização e moradia são referidas. No tocante às diferenças sociais no risco de desenlace fatal da doença, são consideradas a distribuição prévia de condições adversas e as diferenças no modo como as instituições de saúde processam as pessoas. Como proposto pela teoria, as desigualdades de recursos, informações, disposições e capacidade estariam afetando a distribuição social dos efeitos da pandemia no Brasil.
seus efeitos nas chances de vida decorrem da distribuição desigual de poderes e direitos sobre os recursos produtivos relevantes de uma sociedade. o conceito neomarxista de classe social adotado neste estudo, definido estritamente em termos de relações de propriedade, mantém-se analiticamente distinto de variáveis como educação, renda e bens acumulados, o que permite comparar o poder desta noção sociológica aos marcadores mais convencionais de posição social. A condição de classe é gerada por relações sociais assimétricas com os recursos ou ativos geradores de vantagens e desvantagens materiais. Classe procura demarcar teoricamente os determinantes de resultados, em vez de retratar descritivamente os resultados distributivos em si.1 As categorias empíricas de classe mobilizadas para a análise, baseadas em noções de mecanismos geradores de efeitos, oferecem por isso pontos de partida explicativos. A classificação socioeconômica para Brasil utilizada na investigação investiga-se neste trabalho o poder causal que a estrutura social exerce na distribuição desigual das chances de saúde no Brasil. são caracterizadas as discrepâncias relativas de saúde existentes entre as classes sociais. As divisões de classe social e
IntroduçãoEste artigo apresenta uma nova classificação socioeconômica para o Brasil -aplicável às estatísticas sociais nacionais -, expondo tanto os seus fundamentos teóricos e metodológicos como as soluções operacionais consideradas na construção das suas categorias empíricas. Essa classificação é um instrumento que poderá contribuir significativamente para melhor caracterização, descrição e explicação da produção e reprodução da desigualdade social, nas condições concretas da sociedade brasileira. 1 Ela foi submetida, com êxito, a um processo de validação de constructo, que explorou o condicionamento exercido pela esfera da desigualdade de classe, mensurada por esta tipologia, sobre a desigualdade de raça no Brasil (Figueiredo Santos, 2005).A abordagem sociológica de conceituação e mensuração de classe social tem muito a colaborar para o entendimento da configuração, da evolução e das conseqüências das divisões socioeconômicas e suas relações com as demais formas de desigualdades duráveis que permeiam a altamente desigual sociedade brasileira (Tilly, 1999). En-
Os princípios de ordenamento social geram conseqüências que vão além dos seus poderes causais específicos. As divisões sociais que organizam desigualdades duráveis exercem efeitos conjuntos derivados da sua interação estrutural. Investiga-se aqui a hipótese de que a desigualdade de gênero de renda no Brasil seria afetada pela hierarquia racial. Tendo em vista este fim, assim como as suas motivações teóricas, estima-se a distância (gap) de gêne-ro de renda entre os grupos raciais, usando novas soluções metodológicas, e analisam-se os componentes desta desigualdade no âmbito de cada grupo racial. Este trabalho focaliza as divisões de gê-nero no interior das divisões de raça, as combinações dessas categorias, considerando a especificidade dos mecanismos de cada divisão social e seus processos de interação social. A análise empreendida situa e explora, de modo complementar, o papel do contexto subjacente da estrutura da desigualdade econômica de classe no entendimento dos padrões de desigualdade emergentes. Esta iniciativa inscreve-se, ainda, em um programa de investigação de maior amplitude a respeito da produção e da reprodução da desigualdade social na sociedade brasileira.
O mundo social é constituído da interação estrutural entre as categorias que o dividem. Investiga-se aqui a proposição de que a desigualdade de gênero de renda no Brasil seria influenciada pelo contexto de classe social. Estima-se a distância de gênero de rendimentos entre homens e mulheres no Brasil aplicando novas soluções metodológicas, que revelam a existência de uma elevada desigualdade de tratamento de gênero entre pessoas situadas nas mesmas circunstâncias sociais. São investigados determinados componentes relevantes dessa desigualdade econômica de gênero e, por fim, analisados os efeitos condicionantes dos contextos de classe na redução ou exacerbação da diferença de gênero de rendimentos.
Resumo O estudo analisa como classe social e território se combinam na produção de padrões de saúde na população. Considera em particular as variações e as convergências espaciais da relação focal entre classe social e saúde no Brasil. Nas análises foram usadas probabilidades preditas e medidas tanto absolutas quanto relativas de desigualdade de saúde. Foram estimadas as probabilidades de não ter boa saúde para a capital e o interior de cada um dos estados brasileiros. Localização espacial e classe social se combinam para acentuar dramaticamente as discrepâncias de saúde. Como regra geral, as discrepâncias relativas de classe social são maiores nas regiões mais desenvolvidas e nas capitais de todos os estados. Os melhores níveis de saúde em territórios menos adversos favorecem mais os grupos com recursos e capacidades de potencializar os ganhos de saúde. A desigualdade absoluta é maior nas áreas menos desenvolvidas. As adversidades territoriais se combinam a maior densidade das categorias mais vulneráveis, impondo um enorme fardo populacional de saúde nas regiões menos desenvolvidas.
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