ResumoEste artigo aborda a visão de intelectuais indígenas sobre os conhecimentos e as práticas de ensino ocidentais. A escolarização imposta aos povos indígenas, calcada em concepções europeias de indivíduo, natureza e cultura, configurou um processo traumático e doloroso vivido na pele por alguns desses intelectuais, e que pode ser lido sob a chave do epistemicídio. Mesmo assim, a apropriação dos saberes não indígenas e das ferramentas educacionais pelos povos originários faz com que a escola seja aos poucos transformada de um elemento externo assimilacionista para um instrumento de emancipação -ao menos nos discursos de algumas lideranças e intelectuais. Trago, como análise de caso concreto, o exemplo da educação escolar indígena no estado de Roraima, extremo norte do Brasil, com o movimento em torno da escola que queremos, e da atual busca pelo ensino superior universitário, onde já se encontram alguns intelectuais indígenas, sobretudo dos povos Macuxi e Wapichana. A presença indígena na universidadepor meio desses acadêmicos e de cursos voltados para estudantes indígenas no Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima -promove não apenas o encontro de diferentes saberes mas também amplia o leque de estratégias possíveis da política indígena em nível local, em consonância com o que ocorre em outros países. Palavras-chave:Formação; Intelectuais Indígenas; Universidade; Roraima. Indigenous Education and Intellectuals: from training to emancipation AbstractThis article addresses the vision of indigenous intellectuals about Western knowledge and teaching practices. The schooling imposed on indigenous peoples, based on European conceptions of individual, nature and culture, has set up a traumatic and painful process experienced by some of these intellectuals, that can be read under the key of epistemicide. Nonetheless, the appropriation of nonindigenous knowledges and educational tools by native peoples makes the school gradually transformed from an assimilationist external element into an instrument of 1 Doutor em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília (PPGAS/UnB). Mestre e bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lecionou por dois anos e meio no curso de Direito do Centro Universitário do Cerrado -Patrocínio -UNICERP, em Minas Gerais. E-mail: jfklisboa@gmail.com emancipation -at least in the discourses of some leaders and intellectuals. As a concrete case study, I bring the example of indigenous school education in the state of Roraima, extreme north of Brazil, with the movement around the school we want, and the current search for higher education, where some indigenous intellectuals, especially Macuxi and Wapichana, already are. The indigenous presence at the university -through these academics and trought courses directed at indigenous students at the Insikiran Institute of the Federal University of Roraima -promotes not only the meeting of different knowledges but also broadens the range of possible strategies o...
A atuação de acadêmicos indígenas e de artistas indígenas vem transformando o cenário interétnico de Roraima, uma vez que esses sujeitos fazem frente às imagens estereotipadas que o discurso colonial constrói sobre os povos indígenas. Ao fazerem isso, constroem imagens contra-coloniais que remetem à noção benjaminiana de uma história “a contrapelo”, reindigenizando o espaço urbano, ocupando com destaque o meio universitário, exercendo papeis que antes eram impedidos de exercer, sobretudo o de mediadores interculturais. A arte contemporânea e a produção cultural e acadêmica dos indígenas, portanto, são maneiras de relacionar valores e saberes ancestrais com novos meios de expressão, tendo nas imagens mais um elemento das disputas interétnicas. Palavras-chave: arte indígena contemporânea; acadêmicos indígenas. BETWEEN TRAPS AND SHORTCUTS: INDIGENOUS ACADEMICS AND INDIGENOUS ARTISTS IN THE INTERETHNIC CONTEXT OF RORAIMA Abstract:The work of indigenous scholars and indigenous artists has transformed the interethnic scenery of Roraima, since these subjects face the stereotyped images builded by the colonial discourse on indigenous peoples. In doing so, they construct counter-colonial images, that refer to Benjamin's notion of a story “against the grain”, reindigenizing the urban space, occupying prominently the university environment, playing roles that were previously prevented from exercising, especially of intercultural mediators. Contemporary art and the cultural and academic production of indigenous people are therefore ways of relating ancestral values and knowledge with new means of expression, with images as an element of interethnic disputes. Keywords: contemporary indigenous art; indigenous academics.
The lack of understanding between the Judiciary and Indigenous Peoples in Brazil stems in large part from the state's refusal to recognize the sovereignty of the latter, while asserts its own sovereignty over them. There is little interest from judges and legal operators in knowing and recognizing the specific rights brought by indigenous alterity, recognized by the Federal Constitution of 1988. Academic interest in Indigenous Peoples in Law schools is still low and, in most cases when it occurs, is without the methodological tools of empirical research and the ethical concerns of anthropological fieldwork. I intend to analyze the difference between the typical approach of anthropologists and jurists on this subject, while defending the relevance and contribution of Legal Anthropology to all sides involved: Indigenous Peoples, Judiciary and Academia.
Neste artigo busca-se discutir a relação entre as lutas por demarcação de terras indígenas no estado de Roraima, extremo Norte do Brasil, que contou com a participação ativa de indígenas em lugares até então inéditos, e a construção das principais organizações indígenas de Roraima, assim como o recente investimento daqueles povos indígenas (sobretudo os Macuxi e Wapichana) na construção de espaços de educação específica e diferenciada e no ingresso nas universidades. A luta por direitos permanece após a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, e a educação formal entra na pauta das reivindicações do movimento indígena, assim como é por este utilizada para fortalecer e consolidar sua “agencialidade” e seu poder de mobilização.
Este livro é o resultado de minha pesquisa de doutorado em Antropologia, que concluí no ano de 2017, pela Universidade de Brasília (UnB). O tempo transcorrido de lá para cá mostrou que o tema da pesquisa foi uma escolha feliz, pois vem ganhando visibilidade e relevância dentro e fora do ambiente acadêmico e acompanha a ascensão de uma nova e estimulante fase do movimento indígena no Brasil, em que jovens acadêmicas/ os assumem de vez o protagonismo das lutas históricas de seus povos. O estado de Roraima, em que realizei o trabalho de campo, está entre as referências necessárias para qualquer pessoa interessada em conhecer os direitos indígenas, as lutas pela retomada do território ancestral e, especificamente neste caso, em como os povos indígenas vêm se apropriando da educação escolar, conquistando espaço nas universidades e construindo modos interculturais de manejar e transmitir conhecimentos, cruciais para lidar com os desafios contemporâneos. Além disso, devido a condições territoriais muito particulares, foi-me permitido acompanhar essas/ es acadêmicas/os tanto em seus ambientes de estudo, em Boa Vista, quanto nas suas comunidades no Lavrado roraimense. Esses trajetos de mão dupla mostram que existe uma dimensão territorial e local na interculturalidade, à qual eu não teria acesso se apenas um desses polos fosse abordado. A tragédia do garimpo nas terras indígenas – que vem acompanhada de efeitos igualmente trágicos, como as epidemias, o desmatamento e a violência, além do descaso do poder público – voltou a assolar com força os povos originários, destacando-se os efeitos deletérios sobre os Yanomami e Yekuana em Roraima, motivo de imagens e notícias que correm o país e o mundo, capazes de abalar até os mais indiferentes às causas indígenas. Tais problemas, no entanto, nunca deixaram de existir desde que essa região se tornou alvo da cobiça do Ocidente. Tampouco deixaram de ser objeto de preocupação das organizações indígenas do estado, que vêm denunciando esses crimes continuamente ao longo de décadas. Este livro, que inicia com o monumento ao garimpeiro, na praça do Centro Cívico de Boa Vista, e encerra com a aula magna de Davi Kopenawa na Universidade Federal de Roraima (UFRR), não deixou de prestar a devida atenção ao assunto, embora tenha sido escrito antes dessa última onda de invasões e destruição. Acredito, entretanto, que sua principal contribuição seja ter acompanhado, em um momento bastante oportuno, um dos fenômenos mais revigorantes do Brasil contemporâneo, tanto para as universidades e as ciências quanto para os movimentos indígenas e a política. Ao debaterem nas salas de aulas e nas assembleias comunitárias e ao desenvolverem suas próprias pesquisas e intervenções sobre assuntos como meio ambiente e saúde, alimentação e gestão territorial, língua e cultura, história e direitos sociais, as/os acadêmicas/os indígenas nos dão mostras de uma intensa diversidade étnica e epistêmica em constante reprodução e transformação. Novos e antigos saberes se juntam a projetos coletivos de autonomia e resistência, reforçando vínculos, comunidades e indivíduos, num ciclo virtuoso que beneficia não apenas os povos indígenas. São conhecimentos que, de certa forma, sempre estiveram ali, mas que escapavam à escala e aos sentidos das grandes instituições ocidentais. Graças aos esforços de mediação e tradução por parte dessas/es acadêmicas/ os indígenas, e graças à sua atenção (no sentido, também, de cuidado), isso está começando a mudar.
Neste artigo procuro retomar o debate em torno da noção de etnogênese, estendendo-o ao contexto histórico da América Latina e do Caribe e relacionando-o à categoria de Povos Indígenas, utilizada por movimentos de cunho étnico-político (mas que se diferenciam de movimentos de cunho nacionalista) ao redor do mundo. Aquilo que Lévi-Strauss chamou de aquecimento das sociedades indígenas no final do século XX, e que outros autores descrevem como um despertar do movimento indígena, continua a provocar debates dentro e fora do meio acadêmico. Fruto do contato direto com os colonizadores, mas indicando um movimento reverso de retomada de terras e direitos, assim como de símbolos, autoestima e orgulho nativo, tais movimentos contemporâneos estariam imbricados nas diferentes reivindicações de identidade étnica que passaram a configurar a assim chamada etnogênese, redobrando a preocupação dos Estados com tais novas formas de organização política, como é o caso do contexto brasileiro aqui abordado.
O exemplo escolhido por Felipe Ferreira Vander Velden para dar início à Introdução de seu livro não poderia ser melhor: narrar o fulminante desaparecimento da ararinha-azul-de-Spix, ou ararinha-azul, de seu hábitat natural no sertão da Caatinga, às margens do rio São Francisco, entre Bahia e Pernambuco. Nesse curso, o leitor vai sendo apresentado ao que aparenta ser o propósito profundo de "Joias da floresta", não apenas uma antropologia do tráfico de animais, como indica o subtítulo, mas algo muito mais grave, mortal e inquietante: uma antropologia da extinção. Familiarizar o leitor desavisado (ou dialogar com especialistas nessa área que, enfim, vem ganhando a devida atenção, sobretudo em torno da noção de Antropoceno) com termos como "a sexta onda de extinções", "tanatosfera", "zona de morte" e "força assassina", portanto, é a tarefa primária assumida logo de início. E o contraste dessa história trágica e total com a mistura de fragilidade, raridade e beleza singular que é a ararinha-azul faz potencializar a intenção do autor. O objeto de "Joias da floresta" é bem definido: abordar as redes, fluxos e movimentos de circulação de animais silvestres-ou de partes de seus corpos, como será importante ressaltar-em seus múltiplos níveis (locais, nacionais, transnacionais) e atores (humanos, como caçadores, atravessadores e colecionadores, ou não humanos, como pássaros, insetos, buritizais, igarapés), que conectam os diversos ecossistemas do mundo aos compradores de tais "mercadorias", transportando-as sobretudo aos países desenvolvidos do norte. Mais especificamente, a pesquisa que dá base ao livro é focada em uma microparcela dessa rede, localizada na região norte do estado de Rondônia, onde vivem os Karitiana, povo indígena que ora ocupa a posição de fornecedores, e suas conexões com compradores das cidades e povoados vizinhos, sobretudo a capital do estado, Porto Velho.
Resumo: Existe uma grande discussão em relação à qualidade dos dados colectados em sistemas de Informação Geográfica Voluntária (VGI), visto que estes podem ser fornecidos por utilizadores não capacitados na produção de dados espaciais. Visando atender emergências, como catástrofes naturais, sistemas de colecta VGI podem ser desenvolvidos rapidamente utilizando plataformas como Ushahidi ou ClickOnMap. Recentemente foram implementados novos métodos de qualidade na plataforma ClickOnMap, porém ainda não havia sido avaliada a eficiência destes métodos. O objectivo desse trabalho foi avaliar os diversos métodos de qualidade VGI da plataforma ClickOnMap. Para isto foi desenvolvido um sistema chamado "Gota D'água", que colectou dados sobre o tema "desperdício de água em áreas urbanas". Por meio da análise dos dados colectados, estatísticas de uso e aplicação de questionário foi possível perceber a influência dos métodos de qualidade nas colaborações. Esta análise mostrou que os métodos empregados são úteis e imprescindíveis no contexto VGI, sendo recomendado seu uso em sistemas como o OpenStreetMap.
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