de um diálogo com a história dos movimentos sociais de mulheres, de feministas, de gays e de lésbicas. Embora sejam categorias usadas de forma interdisciplinar, neste artigo focaliza-se principalmente o uso destas por historiadoras e historiadores, fazendo uma revisão do que se tem publicado no Brasil sobre o assunto. Dialoga-se com as teorias e busca-se, de forma didática, apresentar para estudantes e pesquisadoras/es um panorama de como estas categorias de análise têm sido constituídas e questionadas.PALAVRAS-CHAVE: Gênero; feminismo; mulheres.Neste texto pretendo narrar como, através de um diálogo com movimentos sociais de mulheres, feministas, gays e lésbicas, 2 foram se constituindo algumas categorias de análise que hoje estão presentes em vários campos de conhecimento, sendo, portanto, interdisciplinar. Vou focalizar aqui, especialmente, categorias de análise como: "mulher", "mulheres", "gênero" e "sexo", usadas por historiadoras e historiadores. Além disso, como este é um debate teórico por vezes considerado intrincado, minha intenção é muito mais traduzir este debate do que acrescentar qualquer reflexão teórica nova.São poucas 3 as historiadoras e os historiadores que, no Brasil, têm refletido sobre gênero como categoria de análise. O que mais se observa é seu uso em títulos de livros e de artigos. Nos textos é comum que apareçam citações de autoras como
A forma como foram definidas as datas do ressurgimento do feminismo de 'Segunda Onda', na década de 1970, no Brasil, reflete interpretações oriundas de diferentes lugares. A narrativa de 'origem' desse feminismo foi resultado de disputas de poder entre diversos grupos feministas e entre estes e os diversos personagens envolvidos na luta contra a ditadura militar, instalada no país entre 1964 e 1985. As dicotomias entre 'lutas gerais e lutas específicas', de um lado, e entre 'verdadeiramente feministas e não-feministas', de outro, presentes nessas disputas, falam de poderes e de conflitos.
The way the 'Second Wave' feminism re-emergence was defined in the seventies, in Brazil, reflects interpretations that come from different places. The narrative of 'origin' of this feminism was result of contests of power among diverse feminists groups and among these and the diverse characters involved in the fight against the military dictatorship, present in the country between 1964 and 1985. The dichotomy between "general fights versus specific fights", in one side, and "true feminists versus not-feminists" in the other side, present in these contests, talks about powers and conflicts. I intend to discuss, in this article, the invention of these origins and their contests for power
Em 1989, a Revista Brasileira de História publicou um número inteiramente dedicado ao tema da Mulher, intitulado "A mulher no espaço público" (v.9, n.18) e organizado por Maria Stella Martins Bresciani. Em sua apresentação, a organizadora dizia ser esta uma "história da exclusão". Falar de Mulher na história significava, então, tentar reparar em parte essa exclusão, uma
A memória das mulheres de duas gerações 1 -as nascidas nas décadas de 20 e 30, que estarei chamando de "geração 20-30", e as nascidas nas déca-das de 40 e 50, que chamarei de "geração pílula" -possibilita explicar de que maneira foi vivida, no privado, uma questão eminentemente política -as políticas de planejamento populacional vinculadas à guerra fria. Ou seja, de que maneira questões de política internacional repercutiram no dia-a-dia das pessoas. Estou considerando que era de sexo e de corpo feminino que se estava falando, quando acordos internacionais exigiam a redução da natalidade de países de terceiro mundo, como o Brasil. Era também de sexo que se falava, quando a Igreja Católica publicava documentos como a Humanae Vitae, decidindo pelos casais quais os métodos que estes poderiam utilizar para planejar o número de filhos que desejavam ter.A memória das mulheres tem sido focalizada ultimamente de forma bastante intensa. A pesquisa histórica sobre o privado e a intimidade no cotidiano tem-se utilizado deste tipo de memória. Na década de 70, quando surgiu no Brasil, a História Oral 2 era empregada especialmente para "preencher lacunas", 3 ou então para obter informações sobre os acontecimentos da esfera pú-blica 4 . Recorria-se principalmente à memória masculina. O argumento era de que as mulheres não eram conhecedoras dos acontecimentos desta esfera, por ABSTRACTThrough the recollection of two women's generation, this text intends to focus on how the contraceptive method experience was lived in Brazil and the great shift, which occurred from the sixties, with the launching of the contraceptive pills trade. I also intend to compare to the same happenings in France.
Historiadoras/es que não se dedicam aos estudos de gênero têm incorporado essa categoria em sua escrita da história e nas suas reflexões. Alguns exemplos na historiografia brasileira podem ser citados: Sidney Chalhoub, em Machado de Assis: historiador;2 Angela de Castro Gomes, no prólogo do livro Escrita de si, escrita da história.3 O mais comum, entretanto, é apenas incluir a categoria "mulher". Outros, porém, apesar de trazerem contribuições importantes para a historiografia, não se beneficiam das possibilidades que a categoria "gênero" pode oferecer para as reflexões do que pesquisam. E não se trata, em absoluto, de falta de fontes; quem trabalha com memória e relatos orais, por exemplo, sabe que as mulheres são as principais depoentes. Trata-se de um dado demográfico e, ao mesmo tempo, uma questão de gênero. 4 Sabemos, também, que os acervos que permitem a pesquisa das grandes figuras do mundo público foram guardados, principalmente, pelas esposas, filhas, netas. Elas têm sido as guardiãs da memória. Mesmo assim, algumas pessoas parecem achar que as categorias "gênero" ou "mulheres", "mulher", "masculinidades", "feminilidades", em nada contribuem para o conhecimento que constroem.Volto, entretanto, a reafirmar que, nos dias atuais, é crescente o número de pessoas que incorporam em suas análises as diferenças de gênero para observar os impactos dos acontecimentos sobre homens e mulheres, a forma como a fonte é constituída, os dados que podem ser coletados e a maneira como se vai criticar a fonte. Historiadores de fama internacional, como Eric Hobsbawm 5 e Roger Chartier, 6 além de outros, vêm afirmando que a Revolução das Mulheres foi um dos grandes acontecimentos do século XX, e que a dominação de gênero permeia as relações. Françoise Thébaud informa que, só recentemente, a historiografia francesa passou a usar com mais frequência a categoria "gênero". Palavra, aliás, considerada imprópria pela Comissão Geral de Terminologia e de Neologia, que atua junto ao primeiro-ministro. A palavra genre, como tradução para gender, foi considerada "neologismo e anglicanismo". Ela pergunta se isso é apenas defesa da língua francesa. 7De acordo com essa autora, a historiografia francesa foi, por muito tempo, um ofício de homens. Estes escreveram uma história para homens, apresentada como universal. Era uma "história assexuada, que esquecia a diferença dos sexos e o masculino no homem". 8 A Escola dos Annales, por exemplo, era uma "confraria masculina", utilizando muitas vezes o trabalho gratuito de mulheres, em geral suas esposas, as quais eram encontradas como estudantes, nos bancos das faculdades.9 Poucos historiadores fazem referência a esse trabalho gratuito, nos prólogos de seus livros. 10Já sabemos quanto o feminismo, o movimento de mulheres e o de gays e lésbicas 11 têm contribuído para que as reflexões sobre gênero sejam implementadas de forma interdisciplinar. O campo historiográfico, entretanto, tem sido um dos mais resistentes. A acusação de ser uma "história militante", portanto, não "científica", continua a...
Para quem tem o privilégio de conhecer, mais de perto, Michelle Perrot, reconhece que ela, além de ser uma historiadora com grande reconhecimento intelectual -na França e em vários países -, possui uma simpatia contagiante. Uma memória prodigiosa, capaz de lembrar nomes e rostos de pessoas vistos há algum tempo. Quem se aproxima dela é sempre recebido com um grande sorriso, algo que sempre surpreende, em vista da costumeira sisudez com que os estrangeiros costumam ser recebidos na França.
ResumoA categoria tráfico de pessoas é uma proposição jurídica e não uma elaboração sociológica. Inventada no século XIX e retomada no final do século XX, tal categoria ganhou discursividade em jogo com saberes que constituíram a prostituição como um problema. A definição de tráfico disposta no atual Có-digo Penal brasileiro se manifesta em relação necessária com a prostituição. O artigo analisa os modos como a discussão sobre o tráfico encontra lugar e efeito em jogo com a noção de que a prostituição deve ser combatida. A batalha discursiva para dizer o tráfico de pessoas e constituí-lo como um problema funciona como um reforço ao rechaço à prostituição, não protege as pessoas que se inserem voluntariamente no mercado do sexo e acaba, por vezes, sendo cúm-plice de exigências internacionais de contenção migratória. Palavras-chave: tráfico de pessoas; conceito; prostituição. AbstractThe concept of human trafficking was first introduced in juridical discourse in the nineteenth century and emerged again with great force in the late twentieth century. Initially the concept was used in discourses that saw prostitution as a problem. The current Brazilian penal code still manifests this construction. Focusing on the Brazilian context, this article discusses how the contemporary legal definition of trafficking fails to recognize the rights of people who voluntarily enter the transnational sex market, and is, sometimes, an accomplice to international demands for migration restraint.
Apresentamos, neste artigo, algumas reflexões acerca dos ataques misóginos perpetrados à primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, que, atualmente sofrendo processo de impeachment, foi substituída por um governo interino que, assim como parte dos veículos midiáticos do país, representa uma concepção conservadora do papel da mulher na politica e sociedade brasileira. Este padrão ideal de mulher, de acordo com visão reacionária, pode ser sintetizado pela expressão “belas, recatadas e do lar”, enquanto Dilma, a quem se quer criticar a visão política ou o governo, recebe adjetivos como “feia, histérica e vadia”.
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