RESUMO Neste artigo, analisarei a edição, pela Editora Alfa-Omega, de São Paulo, de dois livros de oposição: A Ilha (um repórter brasileiro no país de Fidel Castro), de Fernando Morais (1976), e Os exilados: 5 mil brasileiros à espera da anistia, de Cristina Pinheiro Machado (1979). A partir da análise da história da editora, do processo de produção e edição dos livros enfocados e da sua repercussão, buscarei mostrar como e por que eles se caracterizaram como livros de oposição à ditadura então vigente no Brasil e o papel político que estas obras desempenharam no período estudado. Discutirei também a categoria “livros de oposição”, entendendo-a como relacionada a obras literárias que representavam uma manifestação política pública de oposição em um período de forte restrição às liberdades democráticas. Eram, portanto, formas de intervenção possíveis em um quadro ditatorial, que traziam em si as limitações inerentes ao veículo livro, limitações estas relacionadas ao público leitor, à distribuição e ao alcance efetivo dessas obras, e a seu impacto real na conjuntura política do país.
O período da abertura política no Brasil (1974-1985) foi marcado, no campo da edição de livros, pelo surgimento ou revitalização de "editoras de oposição", ou seja, editoras com perfil nitidamente político e ideológico de oposição ao governo ditatorial. Compunham um universo que englobava desde editoras já estabelecidas, como Civilização Brasileira, Brasiliense, Vozes e Paz e Terra, até as surgidas naquele período, como Alfa-Ômega, Global, Codecri, Brasil Debates, Ciências Humanas, Kairós, Livramento, Vega, entre outras. Algumas dessas editoras mantinham vínculos estreitos com partidos ou grupos políticos oposicionistas, caracterizando-se como editoras de oposição engajadas; outras não estabeleciam vinculações políticas orgânicas ou explícitas mas, por seu perfil e linha editorial, representaram iniciativas políticas de oposição. Minha hipótese é de que o surgimento ou a revitalização das editoras de oposição no período em foco, em particular as que classifico como engajadas, teve como motor principal os objetivos políticos a que elas visavam.
Este artigo discute a fusão entre ação editorial e engajamento político oposicionista no Brasil na década de 1970, durante a ditadura iniciada em 1964, analisando a atuação dos editores responsáveis pela Editora L&PM, de Porto Alegre, criada em 1974, e procurando entender como essa ação a transformou em uma casa editorial politicamente ativa, em âmbito regional e nacional. Acredito que este estudo colaborará para a compreensão da síntese entre edição e política no Brasil no período final da ditadura, bem como das relações e mediações então estabelecidas. Além disso, permitirá uma reflexão sobre o papel que a edição política desempenhou no Brasil, buscando uma visão mais ampla do seu significado. Palavras-chave: edição política; história editorial no Brasil; editoras de oposição.
Pau de arara : la violence militaire au Brésil a été publié en France aux Éditions François Maspero en 1971. Il a été immédiatement censuré au Brésil, alors sous le régime de la dictature militaire (1964-1985) et ne fut publié dans ce pays, en portugais, qu’en 2013, soit plus de 40 ans plus tard. Cet article aborde les deux éditions du livre, celle de 1971 en français, puis celle de 2013 en portugais, tâchant de les comprendre dans la spécificité de leurs différents moments historiques. Tout en présentant la trajectoire des auteurs et l’origine du matériel publié, il inscrit l’ouvrage dans le cadre des dénonciations contre la torture alors perpétrée par les agents du régime dictatorial brésilien, ouvrant la discussion sur son usage au Brésil.
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