T empo' é a categoria-chave desse belo trabalho do sociólogo André Botelho, O Brasil e os dias: Estado-nação, modernismo e rotina intelectual. Trata-se de análise da obra de Ronald de Carvalho (1893-1935, diplomata e literato carioca com importante produção cultural como poeta e ensaísta nas décadas de 1920 e 1930.Nos seis capítulos do livro, fruto da sua tese de doutorado em ciên-cias sociais, defendida em 2002 na Unicamp, o autor detalha as idéias de Carvalho de modo a esclarecer que a sua poesia era a política, que o tema primordial de sua literatura era a construção do Estado-nação no Brasil e seu método, uma variação do exercício proustiano (p.197). Munida de concepção historicista da história e conservadorismo polí-tico, sua obra foi uma espécie de incursão no passado 'em busca do tempo perdido', mas, saliente-se, com função propositiva -a identificação de uma 'autêntica' realidade nacional, de modo a afiançar a formação de uma 'genuína' cultura brasileira e a organização social e política do país.Ainda que a procura pela dita 'realidade nacional' não constituísse novidade, sendo mesmo pauta obrigatória entre homens de letras e homens de Estado do período, o especial arranjo entre obra e empenho na trajetória de Ronald de Carvalho exigia, segundo esse seu estudioso, a recuperação de seu 'esquecido' trabalho literário (p.15) e a rediscussão do epíteto que recebeu de 'poeta menor' do modernismo (p.29). Sim, foi poeta, mas por ter pretendido elaborar sua produção cultural como um meio de promoção de solidariedade social e de propaganda nacionalista, Carvalho foi, ainda segundo o autor de O Brasil e os dias, um importante 'intelectual'; ou seja, um intérprete do momento político do país e, exatamente por isso, um dos atores das transformações decorridas naquelas décadas. E, diga-se logo, essa afirmação é o ponto de partida do livro, a hipótese que leva seu autor a percorrer, em interessante diálogo, questões atinentes à sociologia do conhecimento e à história intelectual (sobretudo as que se referem às relações antes interdependentes que disjuntivas entre 'texto' e 'contexto'), e, assim, a analisar 'idéias' como "forças sociais reflexivas atuantes nos processos de mudança social em geral" (p.38).Com refinados argumentos, André Botelho demonstra que refletir e agir sobre o 'tempo', de forma tanto a valorizar elementos da história nacional quanto a apressar a chegada do futuro, era o ponto principal