O presente artigo analisa o depoimento de um sujeito, que denominamos José, filho de uma ex-prostituta que passou parte da infância morando numa região de meretrício da cidade de Diamantina, em Minas Gerais. A mãe do entrevistado trabalhou no Beco do Mota, entre o início da década de 1950 até 1968. A narrativa traz í tona aspectos sobre uma infância marcada pela experiência da exclusão, bem como do estigma decorrente da filiação e do local onde morava. Não obstante a isto, José também elabora memórias que permitem-nos observar estratégias peculiares de resistência para poder existir num espaço urbano estigmatizado e proibido e, também, para além dele.
Com base em resultados de pesquisa interdisciplinar, embasada no método da história oral, este artigo propõe ampliar a compreensão acerca do passado de meretrício e de boemia em Diamantina-MG, tendo como marco espacial o Beco do Mota nas décadas de 1950 e 1960. Os resultados das entrevistas com pessoas que tiveram alguma relação com esse lugar apontam para perspectivas que concorrem, em certa medida, com o discurso hegemônico vigente à época, documentado em textos de jornal. A inclusão dessas novas perspectivas cria possibilidades para o questionamento do imaginário coletivo sobre esse espaço urbano, bem como para tensionar narrativas no que concerne aos sujeitos que o tornaram real.
Este texto se dedica a analisar percepções subjetivas a respeito da fome por meio da interlocução com duas mulheres coletoras de material reciclável, em pesquisa realizada na cidade de Diamantina-Minas Gerais. A partir do entrecruzamento dos métodos etnográfico e histórias de vida, foi possível privilegiar duas questões: como a fome pode mobilizar a ação e quais sentidos as memórias alimentares ou de fome ganham no presente. Inspirada na proposta de Lila Abu-Lughod (2018), de uma “escrita contra a cultura”, esboço uma estratégia narrativa, num esforço textual de demonstrar como histórias particulares permitem perceber como processos mais amplos, como desigualdade e fome, se manifestam nos cotidianos, nos corpos e nas palavras das pessoas.
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