Resumo: O objetivo deste estudo foi compreender como pais de camadas médias de São Paulo, Brasil, significam as normatizações da vacinação no país, a partir de suas vivências de vacinar, selecionar ou não vacinar os filhos. Foi realizada abordagem qualitativa por meio de entrevista em profundidade. O processo analítico guiou-se pela análise de conteúdo e pelo referencial teórico da antropologia do direito e da moral. Para os pais vacinadores, a cultura de vacinação se sobressaiu à percepção de cumprimento da lei; para os seletivos, a seleção de vacinas não foi percebida como ação desviante da lei. Em ambos, o ato de vacinar os filhos assumiu um status moral. Já os não vacinadores, em contraponto à perspectiva legal, atribuem essa escolha a um cuidado ao filho respaldado pela ilegitimidade que a vacinação assume para o modo de vida deles e vivenciam um cenário de coerção social e medo de imposições legais. A vacinação é uma prática importante no campo da Saúde Pública, porém, pode revelar tensões e conflitos oriundos de sistemas normativos, sejam eles de ordem moral, cultural ou legal.
OBJECTIVE To analyze the sociocultural aspects involved in the decision-making process of vaccination in upper-class and highly educated families.METHODS A qualitative approach based on in-depth interviews with 15 couples from the city of Sao Paulo, Southeastern Brazil, falling into three categories: vaccinators, late or selective vaccinators, and nonvaccinators. The interpretation of produced empirical material was performed through content analysis.RESULTS The study showed diverse and particular aspects surrounding the three groups’ decisions whether to vaccinate their children. The vaccinators’ decision to vaccinate their children was spontaneous and raised no questions. Most late or selective vaccinators experienced a wide range of situations that were instrumental in the decision to delay or not apply certain vaccines. The nonvaccinator’s decision-making process expressed a broader context of both criticism of hegemonic obstetric practices in Brazil and access to information transmitted via social networks and the internet. The data showed that the problematization of vaccines (culminating in the decision to not vaccinate their children) occurred in the context of humanized birth, was protagonized by women and was greatly influenced by health information from the internet.CONCLUSIONS Sociocultural aspects of the singular Brazilian context and the contemporary society were involved in the decision-making on children’s vaccination. Understanding this process can provide a real basis for a deeper reflection on health and immunization practices in Brazil in light of the new contexts and challenges of the world today.
Resumo Desde março de 2020, quando a Organização Mundial de Saúde declarou que o mundo vivia uma pandemia de covid-19, acompanhamos um quadro sanitário sem precedentes nos últimos 100 anos. As medidas atuais contra a doença têm como objetivo o controle da transmissão e envolvem ações individuais e coletivas de higiene e distanciamento físico, enquanto a busca por uma vacina se apresenta como a esperança para vencer a pandemia. Considerando o contexto social de clamor por uma nova vacina, este ensaio crítico discute o paradoxo e as contradições da relação indivíduo-sociedade no contexto da covid-19 à luz da hesitação vacinal como fenômeno histórico e socialmente situado. Este ensaio aponta que as tomadas de decisão sobre (não) vacinar ou sobre (não) seguir as medidas preventivas e de controle da propagação da covid-19 são conformadas por pertencimentos sociais e atravessadas por desigualdades que tendem a se exacerbar. A infodemia que cerca a covid-19 e a hesitação vacinal refletem a tensão entre o risco cientificamente validado e o risco percebido subjetivamente, também influenciada pela crise de confiança na ciência. Percepções de risco e adesão a medidas de saúde extrapolam aspectos subjetivos e racionais e espelham valores e crenças conformados pelas dimensões política, econômica e sociocultural.
Due to social distancing guidelines and the displacement of both human and material resources to fight the covid-19 pandemic, individuals seeking healthcare services face certain challenges. Immunization programs have already been a worrisome topic for health authorities due to declines in vaccine uptake rates and are now especially affected by the covid-19 pandemic. Disbelief in science, dissemination of fake news about vaccines, socioeconomic vulnerability and social inequality are some of the challenges faced. This commentary article discusses the impacts of the covid-19 pandemic on immunization programs in Brazil. In light of advances (and notability) of Brazil’s national immunization program, established in the 1970s, the programs face challenges, such as the recent drop in vaccine uptake rates. In addition to this health crisis, there is also Brazil’s current political crisis, which will undoubtedly require assistance from researchers, policymakers and society to be fixed.
Cuidar e (não) vacinar no contexto de famílias de alta renda e escolaridade em São Paulo, SP, BrasilCare and (non)-vaccination in the context of high-income and well-schooled families in São Paulo in the state of São Paulo, Brazil
Este artigo propõe uma metodologia para estimar a dimensão ocupacional do setor de atendimento à saúde e destaca o papel fundamental deste setor para a geração de ocupação e a elevação do perfil de qualificação do mercado de trabalho nacional. A análise parte do pressuposto que o setor de atendimento à saúde, como os demais segmentos vinculados à política social, tem o trabalho como elemento central da organização de sua atividade. Embora as novas tecnologias auxiliem a atividade no setor, possibilitam apenas uma substituição limitada do recurso humano. Assim, parte importante dos riscos inerentes aos atendimentos não é passível de reversão, devendo ser prevenidos sistematicamente, o que exige uma política recorrente de qualificação e regulamentação dos recursos humanos em saúde. A análise toma por base os dados do Censo Demográfico de 2000 e da Relação Anual de Informações Sociais para 2001.
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