225ÁLBUM DUPLO Nada como um dia após o outro dia (2002), a mais recente realização do grupo de rap Racionais MC's, é um disco violento e perturbador -como todos os anteriores na carreira do quarteto, formado por Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e Kl Jay -, mas doloroso e tocante como nunca antes. Duas músicas excepcionais, "Jesus chorou" e "Negro drama", retomam os temas recorrentes de suas letras: o cotidiano de violência hiperbólica da periferia descrito em longas letras de caráter narrativo e tom de revolta; a denúncia do preconceito racial contra os negros; um forte apelo religioso que faz da palavra instrumento de iluminação e conforto; um sentimento arraigado de pertencimento a uma determinada região da cidade de São Paulo, onde nasceu e vive o líder da banda, Mano Brown: a Zona Sul 1 e algumas de suas localidades, como o Capão Redondo e a Vila Fundão. Ao mesmo tempo, o disco apresenta uma face de lirismo, consciência da passagem do tempo e reflexão sobre a posição social do grupo que, se não é absolutamente inédita nas composições dos Racionais, ainda não havia aparecido de forma tão evidente e tocante.Negro drama é um rap de quase sete minutos, em que Edy Rock e Mano Brown revezam-se ao microfone. A voz grave e áspera do primeiro dá início à música:Negro drama / entre o sucesso e a lama / Dinheiro, problemas, inveja, luxo, fama / Negro drama / Cabelo crespo e a pele escura / a ferida, a chaga, à procura da cura / Negro drama / Tenta ver e não vê nada / a não ser uma estrela / longe, meio ofuscada / Sente o drama, o preço, a cobrança / no amor, no ódio, a insana vingança / Negro drama / Eu sei quem trama e quem tá comigo / o trauma que eu carrego / pra não ser mais um preto fodido / O drama da cadeia e favela / túmulo, sangue, sirene, choros e velas / Passageiros do Brasil, São Paulo / agonia que sobrevive / em meio a zorra e covardias / Periferias, vielas, cortiços / Você deve estar pensando o que você tem a ver com isso / Desde o início, por ouro e prata / olha quem morre, então veja você quem mata / Recebe o mérito a farda que pratica o mal / Me ver pobre, preso ou morto já é cultural [...]
A percepção central da qual parte A cena do crime: violência e realismo no Brasil contemporâneo (2013), de Karl Erik Schöllhammer, é a de que a violência é um traço persistente da vida social brasileira, tendo se transformado em cosmovisão e tema recorrente de representações artísticas, especialmente das narrativas de ficção. A partir dessa ideia, os onze ensaios reunidos no livro se desdobram com algumas questões comuns; talvez a mais relevante seja a da permanência do impulso realista na literatura contemporânea em um momento em que a crise da representação e a desconfiança das possibilidades hermenêuticas da crítica tradicional parecem definitivas. Assim, Schollhammer procura, a partir de uma consistente revisão teórica dos debates acerca da representação, da violência e da crueldade, delimitar novas formas de realismo e investigar exemplos da literatura brasileira que exploram modalidades inventivas e experimentais do tema da violência.O ensaio "Realismo afetivo: evocar a realidade além da representação" enfrenta a questão da ambiguidade da mimese quando se trata de narrar a violência, isto é, da fronteira tênue entre representação e expressão da crueza e da crueldade, às raias da banalização da violência, confundindo simbolização com adesão ao impulso violento. Nesse texto, Schollhammer apresenta o problema de maneira complexa e instigante, discutindo as noções de representação nos últimos três séculos até chegar às tendências mais contemporâneas do realismo, pautadas pela tensão entre mimese e evocação, pela passagem da estética do choque modernista para as narrativas do trauma, por uma combinação de representação e não representação, pelas noções de agenciamento da realidade e de performatividade. A discussão se dá em torno de nomes como Lukács, Barthes, Alain Badiou e Mario Perniola, além de autores como Flaubert e Brecht e de escritores brasileiros como Ferréz, Bernardo Carvalho e Luiz Ruffato, entre outros. A exposição teórica suscita a tentativa de delimitar novas formas de realismo: o realis-
Dentre os livros de teor literário sobre a prisão lançados no Brasil na última década, destacam-se alguns que se relacionam com a música rap. Nesses livros, como Diário de um detento (2001), de Jocenir, e Sobrevivente André du Rap (2002), de André du Rap, o rap aparece como elemento de identificação e recurso de comunicação com o leitor. Em situação análoga, grupos de rap como Comunidade Carcerária, Detentos do Rap e 509-E produziram composições sobre a cadeia. Os Racionais MCs, apesar de não terem passado pela experiência do cárcere, têm importantes músicas sobre o tema, como “Diário de um detento” (1997), sobre o Massacre do Carandiru (1992). Analisam-se neste artigo textos da literatura prisional recente e composições de rap em que a cadeia, o crime e o próprio rap são elementos de caracterização de personagens e de estabelecimento de um público, leitor ou ouvinte, que se pretende atingir.
O ensaio analisa os contos de Malagueta, Perus e Bacanaço, de João Antônio, segundo a trajetória de formação de seus protagonistas. Procura compreender a aproximação entre sinuca, marginalidade e literatura como expressão de um projeto de comunhão fraterna entre escritor, leitor e universo ficcional.
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