Este artigo tem o objetivo de contribuir para os estudos e pesquisas sobre homens e masculinidades, apresentando um marco conceitual de gênero, a partir de uma matriz que dialoga com produções feministas e se organiza em quatro eixos: 1) o sistema sexo/gênero; 2) a dimensão relacional; 3) as marcações de poder; e 4) a ruptura da tradução do modelo binário de gênero nas esferas da política, das instituições e das organizações sociais. Para tanto, dialogamos com produções contemporâneas que adotam "gênero" como categoria analítica e se baseiam em referenciais teóricos distintos, mas têm em comum (e se autodefinem a partir de) uma perspectiva feminista crítica. A partir dessa matriz, traz-se uma análise dos estudos sobre os homens e masculinidades no campo da saúde, sexualidade e reprodução, destacando a necessidade de abrir espaço para novas construções teóricas que resgatem o caráter plural, polissêmico e crítico das leituras feministas.
Neste artigo discutimos o uso de oficinas como ferramenta metodológica de pesquisa. Partimos do pressuposto que as oficinas são espaços de negociação de sentidos, com potencial crítico de produção coletiva de sentidos. No contexto das oficinas, a negociação de sentidos compreende um processo de interanimação dialógica e de coconstrução interpessoal de identidades, num constante jogo de posicionamentos, que faz fluir a multiplicidade e contraste entre versões sobre o campo-tema que se investiga. Ou seja, o objetivo da oficina não se limita ao registro de informações para fins de pesquisa, uma vez que sensibilizam as pessoas para a temática trabalhada, possibilitando aos seus participantes a negociação de sentidos variados, abrindo espaços para controvérsias e potencializando mudanças. Decorre disso a necessidade de considerar nossa responsabilidade ético-política como pesquisadores que se propõem a abrir espaços de reflexão sobre processos de subjetivação.
OBJETIVOS: compreender a representação social que mulheres casadas, em situação de pobreza, possuem acerca da AIDS. Dessa forma, se espera contribuir para que o enfrentamento da epidemia se dê de forma mais sintonizada com a realidade em que essa acontece. MÉTODOS: foram realizadas 16 entrevistas, com mulheres em situação de pobreza, com relação conjugal estável. Essas entrevistas foram gravadas, transcritas e agrupadas segundo critérios de avaliação e análise. A análise foi feita com base na proposta da hermenêutica, que se refere à leitura das entrelinhas. RESULTADOS: foi observado um aumento da vulnerabilidade feminina frente à infecção pelo HIV/AIDS, baseado na representação social que essas mulheres têm da AIDS, visto que suas percepções acabam por lhes fornecer uma falsa sensação de imunidade, pois elas não se encaixam dentro do perfil que imaginam como sendo de quem apresenta o vírus ou a própria doença. CONCLUSÕES: o perfil epidemiológico atual da AIDS aponta a mulher como alvo da infecção. Isso ocorre principalmente através das relações sexuais, que são ditadas pelas relações de gênero. Para elas a AIDS é um mal distante; se próximo, não lhes pertence, se lhes pertence é legitimado por ser "obra de Deus" ou por ser próprio do papel de esposa.
RESUMO:Este trabalho se insere no campo de discussões sobre violência de gênero, tendo como objeto de estudo o jogo discursivo de profissionais que atuam na rede de enfrentamento à violência contra as mulheres. Nosso objetivo é identificar como esses profissionais se posicionam acerca das possibilidades de atendimento a homens autores de violência, no Sistema Único de Saúde (SUS). Foram identificadas 38 instituições, nas quais realizamos observações e entrevistas semi-estruturadas com 55 profissionais que atuam diretamente na rede de prevenção, assistência e enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher no Recife, constituindo-se assim em nossos informantes-chave. A análise envolveu tanto a identificação dos repertórios como mapeamento das matrizes discursivas. A análise apresenta reflexões sobre alternativas de atendimento a esses homens, considerando eventos, condições de possibilidades, problematizando o lugar desse atendimento entre as estratégias transformadoras das práticas que dão sustentação à violência de gênero. PALAVRAS-CHAVE:violência; gênero; integralidade; masculinidades; construcionismo. MEN, GENdER VIOlENCE aNd COMPREHENSIVE HEaltH CaREABSTRACT: this paper concerns gendered violence in relation to healthcare. Its focus is to examine the discourse of healthcare professionals who work to prevent, confront and assist in cases of violence against women, about the possibility of attending to male perpetrators of violence in the public health system (Sistema Único de Saúde -SUS). Our methodological resources consisted of observations and semi-structured interviews with 55 health professionals from 38 services and entities concerned with the prevention, treatment and management of intrafamilial and domestic violence in the city of Recife (NE, Brazil). We analysed discursive repertories and discursive matrix, based on the constructionism approach. From the analysis of these interviews, we sought to reflect on the alternatives of attending to male perpetrators of violence, considering events, conditions and the issue of the place of this attendance within the strategies for transformation of practices which sustain gendered violence.
Partindo do pressuposto que risco é um conceito central na sociedade contemporânea, este estudo teve por objetivo entender o papel da mídia na circulação e consolidação da linguagem dos riscos.O risco é, talvez, inerente à vida: viver, diz o ditado, é um risco. Entretanto, o sentido que lhe é dado está implicitamente vinculado ao contexto histórico em que os vários riscos se concretizam. É de especial interesse a progressiva expansão das fronteiras espaciais e temporais que fazem com que os riscos possam ser percebidos para além das subjetividades individuais, para além das fronteiras territoriais e até mesmo para além das fronteiras planetárias. São essas transformações, intrinsecamente associadas aos avanços das tecnologias de comunicação, que possibilitam afirmar que estamos vivendo uma transição que nos leva do risco como fenômeno focal da Resumo Partindo do pressuposto que risco é um conceito central na sociedade contemporânea, este estudo teve por objetivo entender o papel da mídia na circulação e consolidação da linguagem dos riscos. Tendo por base estudos anteriores, optou-se por trabalhar com um único jornal, a Folha de S. Paulo, sendo adotados três procedimentos de pesquisa: 1) mapeamento da diversidade de termos utilizados para falar sobre a possibilidade de ocorrência de eventos concebidos como ocasião para ganho ou perda; 2) análise diacrônica de uma amostra representativa de matérias com a palavra risco no título (1921 e 1998); 3) análise do uso da linguagem de risco por área temática (CD-Rom Folha, 1994. Os resultados sugerem que o uso da linguagem dos riscos na mídia é recente e diversificado, apoiando-se ora na linguagem formal do cálculo de risco, ora no uso metafórico do termo, para falar de desordem na sociedade contemporânea. Palavras-chave: Linguagem dos riscos; produção de sentidos; mídia; modernidade reflexivaDanger, Probability and Opportunity: The Language of Risks in the Media Abstract Based on the assumption that risk is a central concept in contemporary society, the study aims to understand the role of the media in the circulation and consolidation of the language of risks. The Folha de S. Paulo, a major Brazilian newspaper, was used as a source of data. Research procedures involved: 1) mapping the diversity of terms used for talking about the possibility of occurrence of events seen as occasions for loss or gain; 2) diachronic analysis of a representative sample of news-items with the word risk on the title ; 3) analysis of the use of the language of risks by subject area (CD-Rom Folha, 1994. The results suggest that the use of the language of risks in the media is recent and diversified with emphasis on both, the formal language of risk calculations and its metaphoric use for talking about disorder in contemporary society.
This study is part of the overall research effort on the role of the media in making sense of events in late modernity. The main objective is to investigate the context in which news about AIDS is produced at the interface between norms for producing news (as expressed by professional journalists) and an analysis of news stories published in four mainstream Brazilian newspapers. The results are organized in three broad topics: (a) the construction of news about AIDS; (b) the visibility of AIDS news during the study period; and (c) factors that facilitate or hinder the production of AIDS news. Important factors include exclusiveness of the story and/or novelty of the content, the notion of hot (or cold) news, and the specific contents. The authors also emphasize the inevitable chance elements associated with organizational characteristics and daily journalism. They conclude by pointing to recent changes in both the shape of the AIDS epidemic and the communications dynamics resulting from recent developments in the electronic media.
Resumo Este artigo opinião apresenta reflexões sobre masculinidades e construções de gênero - a partir do fenômeno global da pandemia do novo coronavírus -, produzidas por pesquisadores/as que integram a equipe nacional de uma pesquisa sobre política de atenção integral aos homens na saúde, no Brasil. A partir de leituras baseadas em gênero, o artigo argumenta que é preciso atentarmos que a socialização masculina cisheteronormativa se orienta a partir de três eixos: 1) a abjeção às práticas de cuidado de si e dos outros; 2) a rejeição às práticas preventivas em saúde, dada uma distorcida matriz de percepção de risco (e certo sentimento de “invulnerabilidade”); 3) a dinâmica doméstica marcada por posições de comando, ordenamento e honra. Essas dimensões da vida cotidiana foram profundamente provocadas nesta primeira fase da epidemia, em que o confinamento se tornou a alterativa mais recomendável. Esses eixos se configuram como repertórios recorrentes (embora não recentes) que reificam o modelo central de uma ordem masculina que precisa se tornar objeto de reflexão, na medida em que colocam em risco a saúde de homens e mulheres e mais amplamente dos pactos civilizatórios e da ordem social.
scite is a Brooklyn-based startup that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2023 scite Inc. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers